ENTENDA
A OSTEOATROSE
Se você é veterinário ou tutor de um animal com osteoartrose, deve ser capaz de entender o mecanismo de ação desta doença progressiva. Descrevemos neste programa informações importantes para que você compreenda as etapas que ocorrem nas fases de desenvolvimento da doença, podendo assim identificar precocemente as alterações e manejar o paciente da melhor forma possível.
IDENTIFICAÇÃO
E AVALIAÇÃO DA DOR ARTICULAR
A dor é uma experiência emocional e sensorial desagradável em resposta a um dano ou injúria, e o paciente pode ou não sofrer dor em resposta à nocicepção. As lesões ortopédicas, em especial, estão sempre associadas à “impressão” de dor. E às vezes fica difícil a aceitação de que, no momento inicial ao trauma, não é necessário o controle da dor, uma vez que as encefalinas e endorfinas liberadas durante o trauma agem como substâncias analgésicas.
Quando os nociceptores são estimulados, seja por estímulos mecânicos, químicos ou térmicos, ocorre a transdução do sinal. Ou seja, esses estímulos são “transformados” em estímulos elétricos, que são conduzidos, transmitidos até o corno dorsal da medula espinhal, onde sofrem a modulação. Nesse momento, o impulso nervoso (elétrico) ou vive ou morre, uma vez que se mantém “vivo”, continua seu percurso até chegar ao hipotálamo, no córtex cerebral, onde ocorre a percepção da dor. Partindo desse ponto, quando optamos pelo controle multimodal da dor, temos a certeza da analgesia completa (Figura 1).
Quando nos referimos à ortopedia, sempre pensamos no paciente traumatizado. Entretanto, temos pacientes com dor crônica e disfunção associada à osteoartrite e/ou doença articular degenerativa, por exemplo. É um paciente ortopédico, mas sem trauma. Esse paciente apresenta as mesmas alterações fisiológicas relacionadas ao trauma quando nos referimos aos mediadores inflamatórios e álgicos. Nele, o controle da dor também deve ser feito.
Identificar e diagnosticar a dor no animal artrítico é uma tarefa árdua, toda mudança de comportamento pode sinalizar dor. Na espécie felina, mudanças comportamentais mais comumente observadas incluem menor interatividade com o ambiente, com o tutor e/ou outros pacientes, maior irritabilidade, pouca tolerância à escovação e carinho, reclusão, mudança de locais habituais de descanso e alterações nos horários de sono, gerados, principalmente, pela dificuldade em encontrar posições confortáveis para dormir. Também pode ocorrer diminuição da ingestão de alimento e água, especialmente se os potes estiverem posicionados em locais que exijam que o paciente realize esforço para acessá-los. Dificuldade em acessar a liteira, bem como a dificuldade para posicionar-se na mesma durante ato de eliminação, são comportamentos que podem estar relacionados a processos dolorosos associados à OA e podem gerar quadros de eliminação inapropriada, constipação e/ou retenção urinária, predispondo a doenças das vias urinárias e constipação crônica.
Gatos com dor crônica raramente serão observados claudicando ou com impotência funcional de membros. A espécie tende a poupar-se de movimentos e/ou atitudes que possam gerar ou aumentar a sensação de desconforto, sendo a redução de mobilidade um dos sinais mais comuns a ser notado.
Existem muitos modelos experimentais de indicadores de dor, no entanto, o indicador mais confiável é a resposta a um analgésico, sendo que a utilização de escalas de dor, como a de “Glasgow”, pode auxiliar neste momento.
Figura 1: Ilustração de um cão demonstrando os quatro processos fisiológicos da dor: transdução, transmissão, modulação e percepção da dor.